terça-feira, 19 de março de 2013

O TRATAMENTO DE DEUS PARA COM A CARNE DE SEU POVO


O TRATAMENTO DE DEUS PARA COM A CARNE DE SEU POVO
Leitura da Bíblia: Êx 16:14, 8-13a; Nm 11:1-6,10-23, 31-34.

O livro de Êxodo apresenta um quadro da salvação plena de Deus. Nesta, dois pontos são cruciais. O primeiro é que Deus quer ser tudo para o Seu povo escolhido. Quer trabalhar Sua própria pessoa dentro daqueles que para Si predestinou. Em segundo lugar, levando em conta que Ele quer ser tudo para nós, Ele também não quer que façamos nada. Pelo contrário, quer fazer tudo em nosso lugar.
Quando aplicamos esses dois pontos ao livro de Êxodo, percebemos que o próprio Deus tratou com Faraó e com os egípcios. Não pediu aos filhos de Israel que lutassem para serem libertados da tirania egípcia. Fez tudo para provocar a derrota total dos egípcios. Ao confrontar-se com Faraó, tudo o que Moisés possuía era uma vara, um bastão morto. Deus, realizou tudo para o Seu povo.
Precisamos atentar àquilo que Deus fez por Seu povo em menos de quarenta dias. Mandou as pragas sobre os egípcios e, na noite da páscoa, matou os primogênitos. Libertou depois, os filhos de Israel da mão de Faraó e os conduziu pelo Mar Vermelho, onde o exército egípcio foi afogado. Além disso, levou o povo a Mara, onde transformou a água amarga em doce. Guiou-os, posteriormente, em direção a Elim onde havia doze fontes e setenta palmeiras.


I. A CONCUPISCÊNCIA ÁVIDA DO POVO

De acordo com 16:1, a congregação dos filhos Israel "veio para o deserto de Sim... aos quinze dias do segundo mês, depois que saíram da terra do Egito". A páscoa aconteceu no décimo quarto dia do primeiro mês. Por isso o registro do capítulo 16 descreve o que ocorreu apenas nos trinta e um dias posteriores à páscoa. Ao percebê-lo pela primeira vez, fiquei muito surpreso. Durante esse curto período de tempo, o povo de Deus presenciou muitos milagres. Não ficaram, todavia, adequadamente impressionados com a suficiência do Senhor. A páscoa foi um grande acontecimento, e a travessia do Mar Vermelho foi algo ainda maior. Além disso, as experiências de Mara e Elim foram significativas. Entretanto, quando foi ao deserto de Sim, e murmurou, e desejou as panelas de carne do Egito, o povo parecia não ter tido experiência nenhuma.
Poucos leitores de Êxodo deram atenção adequada ao capitule 16. Esse capítulo, na verdade, é maior do que o capítulo 12 ou 14. Naquele, temos a páscoa; no quatorze, a travessia do Mar Vermelho; e, no dezesseis, o comer do maná. O comer do maná indica que o povo de Deus atingiu o ponto em que começou a ser um povo celestial, um povo cuja natureza começava a ser transformada com o elemento celestial.
Vários milagres nas Escrituras foram efetuados com as coisas físicas da criação de Deus. O Senhor Jesus, por exemplo, alimentou a multidão com os pães e peixes (Mt 14:19). Mas será que podemos dizer que o maná do capítulo 16 era um item da velha criação de Deus? Nenhum estudioso pode dizer-nos qual era a substância ou o elemento do maná. Qualquer que fosse sua substância, certamente não pertencia à velha criação. Na velha criação não existe coisa tal como o maná.
No capítulo 16, há dois milagres: o envio das codornizes e o envio do maná. As codornizes pertencem à velha criação. Um vento soprou da parte do Senhor e as trouxe (Nm 11:31). Isso, sem dúvida, foi um milagre, mas realizado através de coisas naturais e físicas. O envio do maná, entretanto, foi diferente: veio do céu (Êx 16:4). Embora saibamos dessa sua proveniência, não sabemos qual era o seu elemento constituinte. Não podemos dizer qual era a sua essência, mas estamos cientes de que era uma comida diferente de toda comida terrena. Participar do maná era ter uma dieta celestial. Essa comida celestial não pertencia à velha criação.
As pessoas, invariavelmente, vivem de acordo com o que comem. Os nutricionistas dizem-nos que somos o que comemos. Se comermos muito peixe, por exemplo, tornar-nos-emos uma composição de peixe. Dia a dia, por um período de quarenta anos, os filhos de Israel comeram maná. Como resultado, sua constituição era de maná. Podemos até mesmo dizer que eles se tornaram maná. Embora não conheçamos sua essência, sabemos que era esse o tipo de comida que levava o povo a se tornar celestial. Pelo comer dessa comida celestial, tornamo-nos um povo celestial.
Ao dar ao Seu povo maná para comer, Deus indicava que Sua intenção era mudar-lhes a natureza. Ele queria mudar-lhes o ser, a própria constituição. Eles já haviam passado por uma mudança de lugar. Antes estavam no Egito; agora estavam com o Senhor no deserto, um lugar de separação. Mas não basta a mudança de lugar, porque ela é muito exterior e objetiva. Deve haver também uma mudança interior e subjetiva uma mudança de vida e natureza. A maneira de Deus produzir tal mudança em Seu povo é pela dieta deles. Por comer a comida egípcia, o povo de Deus constituiu-se com o elemento do Egito. O elemen-to do mundo tornou-se a sua composição. Quando estavam no Egito, não participavam de nada celestial, pois tudo o que comiam estava de acordo com a dieta egípcia e era egípcia em natureza. Embora retirado do Egito e introduzido no deserto de separação, o povo de Deus ainda estava constituído com o elemento do Egito. A Sua intenção agora era mudar-lhes o elemento, modificando-lhes a dieta. Ele não queria que comessem coisa alguma proveniente de uma fonte mundana. Já não lhes era mais permitido comer comida egípcia. Deus queria alimentá-los com a comida do céu, a fim de constituí-los com o elemento celestial. O Seu desejo era preenchê-los, satisfazê-los e saturá-los com a comida celestial, e através disso torná-los um povo celestial.
Antes de enviar o maná do céu, Deus mandou as codornizes (16:13). Estas fizeram com que o povo ficasse ainda mais carnal. A natureza e a substância das codornizes correspondia à natureza e substância dos filhos de Israel. Com o maná, porém, isso não acontecia, pois ele era de um outro tipo, de um outro reino e lugar. Assim, ao enviar o maná, Deus mostrou que Sua intenção era mudar a composição de Seu povo. Ele não se satisfaz com uma mera mudança de lugar. Também deve haver uma mudança de constituição. Nós, povo de Deus da atualidade, somos uma composição de coisas terrenas, uma composição do elemento egípcio. O objetivo de Deus, portanto, não é simplesmente modificar o nosso comportamento, mas mudar o nosso ser interior, a própria origem interna de nossa constituição. Embora a substância do Egito faça parte de nós, Deus tenciona constituir-nos com um elemento celestial. É-nos vital vislumbrar isso.
Deus sabia que os filhos de Israel necessitavam de comida. Se tivessem fé no Senhor, ter-se-iam encorajado um ao outro a simplesmente descansar Nele. E diriam: "O nosso Deus conhece a nossa necessidade. Não há motivo de murmúrios nem queixas. Confiemos Nele e descansemos. Lembremo-nos do que Ele fez por nós em dias recentes. Tratou com Faraó, matou os primogênitos, derrotou os egípcios, conduziu-nos através do Mar Ver- melho e supriu todas as nossas necessidades." Mas, em vez de exercitar fé no Senhor, os filhos de Israel aparentemente se esqueceram de tudo o que Ele lhes fizera. Em vez de louvá-Lo e agradecer-Lhe por Seus feitos, murmuraram e se queixaram. As suas palavras foram ásperas e horrendas, quando disseram a Moisés: "Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão de Jeová na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, e comíamos pão a fartar! pois nos trouxestes a este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão (16:3, hebraico). Até mesmo Moisés foi tocado pelo murmúrio do povo. Isto se prova pelo fato de ele dizer: "pois que somos nós para que murmureis contra nós?" (16:7). Ao proferir tal palavra, ele não foi vitorioso. Pelo contrário, isso foi um sinal de que ele fora derrotado ao ser tocado pelas murmurações do povo. Se eu fosse ele, diria uma palavra ainda mais forte, tal como: "Vocês se esqueceram de tudo o que lhes tenho feito? Lembram-se das panelas de carne, mas não se lembram da tirania, do labor e dos sofrimentos no Egito. Tirei-os daquela tirania. Por que murmuram contra mim?" Comparado a nós, ele foi vitorioso; mas não o foi de maneira absoluta.
Já enfatizamos que, em Sua salvação, Deus tenciona sermos tudo e fazer tudo por nós. Ele é real, vivo, fiel e resoluto. Porque tem um objetivo em Sua salvação, não há necessidade de Lhe pedirmos que tenha misericórdia de nós e que nos salve. Ele está trabalhando por nós e conhece todas as nossas necessidades. Se O conhecermos a Ele e aos Seus caminhos, não nos queixaremos nem murmuraremos quando tivermos uma necessidade. Pelo contrário, diremos: "Louvado seja o Senhor! Ele conhece todas as nossas necessidades. Se Ele quer que não tenhamos uma refeição, então façamos um jejum com louvor e júbilo diante de Sua pessoa. Mesmo se Ele retiver a comida por muitos dias, ainda assim nos rejubilaremos. Ele conhece a nossa necessidade e enviará o suprimento na hora certa. Se decidir que jejuemos, em vez de festejar, ainda assim O louvaremos. Ele sabe o que é melhor para nós. Aceitemos com júbilo tudo o que Ele nos dá".
Se fosse essa a atitude dos filhos de Israel, Deus não enviaria as codornizes. Simples-mente mandaria o maná, bem cedo, na manhã seguinte. O Seu propósito ao enviar o maná era mudar a constituição do Seu povo. O maná produz uma mudança metabólica, em que o elemento egípcio é substituído pelo celestial. Esse "metabolismo celestial leva o povo de Deus a ser transformado. Em rótulo, os filhos de Israel não eram egípcios; mas, em natureza e composição, não diferiam deles um pouco sequer. Ao dar o maná ao povo, Deus parecia dizer: "Salvei-os posicionalmente do Egito, mas vocês ainda não foram mudados quanto à maneira de ser. Vou mudar-lhes agora a constituição, transformando sua dieta egípcia em celestial. Desse modo, mudar-lhes-ei a natureza e o ser, e os tornarei um povo peculiar. Porque quero que sejam celestiais, não os alimentarei com nada que tenha origem na terra. Enviarei, diariamente, uma comida celestial, uma comida da Minha habitação no céu. Ela lhes mudará a composição". Que todos vejamos que a intenção de Deus em Sua salvação é trabalhar-Se dentro de nós e mudar nossa constituição, alimentando-nos com a comida celestial.

(Extraído do livro: Estudo-Vida de Êxodo - Mens. Um - W.Lee)

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